segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Entrevista a uma Bailarina

A maioria das meninas, quando pequeninas, começa a fazer aulas de ballet incentivadas pelas mães, sejam elas bailarinas ou não. Para Betina Dantas não foi diferente. Aos três anos de idade ela já vestia o collant e as sapatilhas. Apesar de Betina ser filha de bailarina, ela acredita que já nasceu com esse dom. “Brinco que saí da barriga dela fazendo ponta”, diverte-se.
Com o passar dos anos, a brincadeira de criança tomou rumos mais sérios. Formada pela Royal Academy of Dancing, de Londres, Betina sabia o que queria ser quando crescesse: bailarina. Mas, aos 14 nos, sofreu uma lesão crônica no tornozelo que a impedia de continuar subindo na sapatilha de ponta. Mesmo desolada, procurou por outros tipos de dança, apaixonando-se então pelo jazz. Foi através dessa modalidade que conheceu o bailarino Edy Wilson, diretor da Anacã Companhia de Dança, que é onde Betina atua como bailarina e trabalha como professora de dança.
Voltando um pouco no tempo, quando sofreu a lesão no tornozelo que a forçou parar de dançar ballet, Betina decidiu criar uma nova aula que envolvesse desde os passos de dança até o fortalecimento muscular. Isso porque ela odiava fazer musculação na academia, mas foi percebendo que o corpo estava ficando flácido. Além disso, naquela época ela era professora de ballet infantil e começou a reparar que as mães das alunas, mesmo dentro de uma academia, preferiam ficar sentadas esperando que as filhas saíssem da aula a malhar. “Eu dizia ‘gente, vão malhar, vocês estão dentro de uma academia!’ Mas elas respondiam que detestavam musculação e que se eu desse uma aula de ballet para elas, elas fariam. Naquela época, em 2003, nem se falava em ballet adulto”, lembra.
Foi assim que Betina decidiu criar a aula chamada Ballet Fitness. “Eu sentia no corpo como o exercícios de ballet malhavam o corpo. Para mim, o físico de bailarina sempre foi o mais bonito e harmônico”, afirma. Assim, começou a aplicar as aulas para as mães das alunas e, com o sucesso da atividade, precisou criar a metodologia específica e patentear o Ballet Fitness.
Como o nome já sugere, as aulas mesclam os passos técnicos do ballet clássico com os exercícios específicos de fitness, como agachamentos, abdominais e flexões. As aulas nunca são iguais, visando a estimular as praticantes. O Ballet Fitness, além de fortalecer e definir a musculatura corporal, ainda auxilia na postura, flexibilidade, respiração, equilíbrio e é um ótimo exercício para a memória. Qualquer pessoa, a partir de 15 anos e com noções mínimas de ballet, podem fazer as aulas. Apesar de a aula também ser permitida aos homens, o público predominante ainda é de mulheres.
Em entrevista à Sportyard, Betina Dantas contou tudo sobre o Ballet Fitness e seus projetos profissionais.
Sportyard: Betina, conte-nos um pouquinho sobre a sua história como bailarina.
Betina Dantas: Comecei aos três anos, incentivada pela minha mãe, que também dançou a vida inteira. Mas eu nem precisava de incentivo, acho que nasci com isso em mim. Brinco que saí da barriga dela fazendo ponta (risos). Desde pequena, eu amava tudo relacionado à dança e à arte. Nessa escola onde comecei, ainda pequena, fiz toda a formação artística que incluía além do ballet, jazz, sapateado, canto, artes plásticas, história da dança e música. Eu amava tudo, mas minha paixão era o ballet. Acordava rodopiando pela casa e dormia de figurino. Mesmo com toda a rigidez do ballet clássico e da severidade extrema naquela época, eu gostava. Claro que quando pequena, chorava com as broncas das professoras, mas minha mãe sempre me colocava no colo e dizia para ter paciência, que se eu quisesse mesmo ser bailarina, teria que passar por aquilo.
Me formei pela Royal Academy of Dancing e amava fazer as provas com aquelas examinadoras bravíssimas. Com 14 anos, tive uma lesão crônica no tornozelo e não podia mais subir na sapatilha de ponta. Naquela idade, dançar sem ponta, no meu nível técnico, era no mínimo estranho. Fiquei péssima, mas com o tempo comecei a me interessar por outros tipos de dança e me apaixonei pelo jazz. Minha mãe, maravilhosa e amante da arte, me levou para fazer cursos e aulas no mundo inteiro. Fui para a França (morei em Paris oito meses dançando), Bélgica, Itália, Holanda, Alemanha e Nova York.
Depois disso, comecei o contemporâneo e entrei para a Quasar Cia de Dança de Goiânia, minha cidade natal. Mas, como minha paixão era o jazz e a companhia mais famosa desta modalidade era o Raça, fiz audição e entrei. Ali, realizaria o sonho de dançar com a coreógrafa Roseli Rodrigues; para mim, a pessoa mais genial no que diz respeito ao verdadeiro jazz. Infelizmente ela se foi, mas deixou um legado absurdo. Um deles é o coreógrafo (outro gênio) Edy Wilson, diretor da Anacã Cia de Dança, da qual hoje tenho a honra de fazer parte como professora da escola e bailarina da companhia. Sou apaixonada pela movimentação do Edy e como ele tem o dom de ensinar, melhorar e transformar qualquer bailarino. Fiquei anos sem dançar, me dedicando apenas como professora. Recentemente, tive a feliz possibilidade de reencontrar o Edy e voltar a dançar. Faço seis horas de treino pesado por dia, aulas e ensaio. Sempre tive um físico bom, mas senti que com esta volta à vida de atleta meu corpo passou por um boa mudança.
Além de ser bailarina da companhia, contribuo para o treinamento dos bailarinos com o Ballet Fitness, ajudando no condicionamento físico específico para profissionais deste nível técnico, com exercícios de fortalecimento e melhora cardiovascular.
S: Falando em Ballet Fitness, como surgiu essa ideia?
B. D.: Decidi criar essa aula após a minha contusão do tornozelo, que me forçou a parar as aulas de ballet por um bom tempo. E também porque eu trabalhava com ballet infantil dentro de uma academia, a Body Tech de Goiânia. Como odiava musculação, senti que meu corpo foi perdendo a definição e ficando mole (risos). As mães das minhas aluninhas ficavam sentadas na frente da sala assistindo à aula delas. E eu sempre falava “gente, vão malhar, vocês estão dentro de uma academia!” Mas elas respondiam que detestavam musculação e que se eu desse uma aula de ballet para elas, elas fariam. Naquela época, em 2003, nem se falava em ballet adulto. Não era moda como agora, e quem não começasse de pequena, nunca imaginava entrar numa aula.
Assim, decidi usar os movimentos do ballet ao meu favor e criei o Ballet Fitness, pois sentia no corpo como os exercícios de ballet malhavam o corpo. Para mim, o físico de bailarina sempre foi o mais bonito e harmônico. Comecei essas aulas para as mães e foi um sucesso. De lá pra cá, fui estudando, me dedicando e construindo uma aula com exercícios específicos para cada parte do corpo. Como também sou educadora física, isso me ajudou bastante na formatação das aulas. Pensava assim: qual exercício do ballet pega bastante os glúteos? Aí montava uma sequência de pliês com agachamentos que "matavam a bunda" (risos). Como sempre achei lindo um glúteo redondinho e empinado e uma barriga sequinha, minha aula tem muito foco nisso, então é um sucesso! Falo que é aula para o biquíni.
É claro que a definição e todas as mudanças acontecem mais rapidamente se a aluna cuidar da alimentação. Em um mês, já dá para sentir diferença. Uma aula para quem está no nível avançado pode gastar até 794 calorias em apenas meia hora! Falo isso com embasamento na medicina esportiva. Minha aula foi monitorizada pelo Dr. Franz Burini, médico do esporte e meu maridão (risos). Pelos laudos, descobri todos os benefícios da minha metodologia e me livrei da esteira. Até então, achava que impossibilitada de dançar, só a corrida me deixaria sequinha e definida.
De acordo com os testes metabólicos realizados por meio dessa metodologia específica de Ballet Fitness que criei, além de existir menor catabolismo (desgaste) comparado com os mesmos 30 minutos de corrida, houve ainda menor predomínio do tônus simpático (stress cardiovascular) e maior oxidação de gordura. Concluindo, constatou-se uma otimização de oxidação de gorduras na aula de Ballet Fitness e que a variabilidade de frequência cardíaca sugere menor estresse do ballet frente à corrida!
Diferente da aula convencional, minha metodologia mescla passos técnicos do Ballet Clássico, em barra, aliados a exercícios específicos de fitness, como agachamentos, abdominais e flexões, na barra e no chão. O grande foco é o aumento no número de repetições dos passos e no tempo de isometria e sustentação muscular nos exercícios. Todo dia crio uma aula diferente. Uma aula nunca é igual à outra e isso ajuda a fugir da mesmice e monotonia. Fazer todo dia a mesma sequência cansa e desestimula qualquer um.
S: Quais são os benefícios do Ballet Fitness?
B. D.: O Ballet Fitness ajuda a trabalhar a postura e deixa o corpo longilíneo, bem diferente do "visual trincado" das aulas triviais de musculação e localizada. A aluna melhora o tônus muscular, a flexibilidade, a respiração e o equilíbrio. Além de adquirir agilidade, músculos alongados, alinhamento corporal, força abdominal e lombar e trabalhar com a memorização.
Os resultados são absurdos e surpreendentes, pois a aula mescla o aeróbio com o anaeróbio, trazendo força e ao mesmo tempo leveza e graciosidade como poucas modalidades conseguem! É uma aula "power" que trabalha bastante com o cardiovascular, promovendo a queima de calorias e consequentemente a perda de peso.
Por ser uma aula muito dinâmica, a aluna consegue resultados incríveis no físico. Essa técnica constrói realmente um corpo diferenciado e esculpido, tonificado, elegante e flexível. A aluna trabalha com o peso do próprio corpo. Além disso tudo, ainda é uma forma de expressão e de arte, as músicas são deliciosas (tanto as clássicas, quanto as animadas), o que promove um super bem estar.
S: A aceitação do Ballet Fitness, então, foi muito boa...
B. D.: Não, não foi tão fácil a aceitação do Ballet Fitness e até hoje recebo críticas, o que acho normal. É difícil paras as escolas e companhias tradicionais de ballet essa mistura. Parece uma ofensa ao ballet e à arte. Mas, quando explico que vim dessa tradição, vivi da arte pura do Ballet Clássico e me formei pelo método inglês da Royal Academy, as pessoas acabam se interessando e compreendendo que não se trata de uma ofensa. Hoje, acho que o que vale é testar coisas novas, estar à frente dos tempos e trazer um tipo de malhação gostosa e que traga um físico invejável e belo. Amo a arte em toda e qualquer manifestação que ela nos proporciona, amo o clássico convencional, tanto que até hoje faço aulas com a companhia. Mas acho maravilhoso usufruir da técnica clássica com uma pegada de malhação. A aula de Ballet Fitness que criei e estruturei é realmente genial e eu sou fã número 1, sou a prova do que faz pelo corpo. E quando vejo as minhas alunas me agradecendo porque sentem a diferença no físico, não tem preço! Hoje estou feliz com este sucesso do ballet adulto, seria um desperdício tanta informação preciosa voltada apenas pra quem iniciou na infância.
S: É possível substituir a musculação e os treinos aeróbicos pelas aulas de Ballet Fitness?
B. D.: Depende muito do ritmo, empenho e dedicação da aluna. O ideal é de duas a três aulas na semana. Nesse ritmo, substitui certamente a musculação, pois os exercícios proporcionam um fortalecimento muscular absurdo, mas sem utilizar pesos. A aula é aeróbica também e queima bastante, principalmente nos exercícios rápidos e nos saltos. O coração vem para a boca! Quem faz três vezes na semana não tem necessidade nenhuma de complementar com outra atividade.
S: Então qualquer pessoa pode fazer aulas de Ballet Fitness?
B. D.: É importante que o corpo já esteja condicionado. Além disso, é preciso ter uma base de ballet. Quem faz ou já fez algumas aulas, mesmo que há alguns anos, acompanha mais facilmente os exercícios e com isso a aula realmente funciona. Quem vai às aulas e não sabe os nomes dos passos fica um pouco perdida, acaba não tendo o aproveitamento que a aula deveria proporcionar e ainda corre o risco de se machucar. Postura errada, lesão na certa! Quem pretende começar a minha aula, eu indico ter um conhecimento básico de ballet para acompanhar o ritmo e saber os nomes dos passos. Sugiro pelo menos um mês de ballet clássico antes de entrar na minha versão fitness.
S: Para quem vai estrear no Ballet Fitness, qual o tipo de roupa que você recomenda?
B. D.: As roupas são as mesmas de uma aula de ballet clássico: collant, meia calça e sapatilhas (mas sem pontas). Adoro polainas, pois além de dar um charme no look, elas aquecem bastante, principalmente as panturrilhas que usamos muito na aula.
S: Como é o seu cuidado com a alimentação?
B. D.: Desde pequena tive uma boa educação alimentar vinda da consciência e preocupação que meus pais sempre tiveram em casa. Como fiz esporte a vida inteira, me alimentar bem era essencial. Mas eu não me privo das coisas que gosto, tipo doce (meu pecado!) e alguns pratos que a minha avó, mãe e tias fazem. Mas sou da lei da compensação: o dia que sei que tenho jantar, seguro a onda no almoço e vice-versa. Na fase pré-espetáculos, não saio à noite de jeito nenhum! Não tomo nenhum suplemento, apenas vitamina C e colágeno diariamente. Não sou contra quem usa suplementação, mas eu me ajusto bem apenas com a alimentação e tenho facilidade para ganhar músculos, então não vejo necessidade.
S: Você praticou outros esportes quando criança?
B. D.: Eu amava natação. Participava de campeonatos e ganhei muitas medalhas! Nadava e dançava todos os dias, até que a minha mãe me obrigou a escolher um. Dizia que o coração dela não aguentava passar por tantas competições, pois eu fazia inscrição para todas as que apareciam na frente (risos). Então, escolhi dançar.
S: Quais são os cuidados com o corpo além da dança?
B. D.: Quando não tenho aula e ensaio, geralmente em julho e janeiro, faço musculação e esportes na praia. Amo stand up (paddle) e tenho me arriscado no surfe, além de correr na areia com o King, meu Golden Retriever. Isso me deixa descansar da dança e o corpo dá a respirada necessária sem perder o ritmo. E nunca fico sem me alongar, isso muda a vida!
Amo massagem e faço no mínimo uma vez por semana. Como fico o dia inteiro de pé, faz uma super diferença!
S: Quais os seus projetos para o futuro?
B. D.: Ter franquias para propagar o método Ballet Fitness no Brasil e posteriormente no exterior. Também quero lançar minha linha de roupas de dança, fazer cursos de treinamento de professores e, pessoalmente, começar a "fábrica" de filhos (risos)!
S: Como você se define?
B. D.: Mesmo com alguns problemas que surgem no nosso caminho, eu faço de tudo pra não perder a graça que é viver! Sempre fui muito alto astral e feliz da vida.  Rezo muito e com Ele no nosso caminho, só temos bênçãos! Acho que a alegria ajuda a te deixar mais bela por dentro e, com certeza, reflete no exterior.
S: O que o ballet significa para você?
B. D.: O Ballet, para mim, é um mundo encantado, que me inspira e inspira o mundo e as pessoas, sejam elas de qualquer área. Acho emocionante quando alguém me pergunta o que eu faço e, quando digo que sou bailarina, vejo que os olhos brilham. É, sim, um mundo diferente, onde o belo e a perfeição estão em primeiro lugar. Para mim, é a modalidade mais difícil e desafiadora de todas. O físico e o artístico têm que estar em perfeita sintonia e precisão. Por isso a expressão "aquele bailarino é completo". Unir os dois é bem difícil! Então, ser bailarina para mim significa a minha vida. E mesmo sentindo dificuldades físicas pelas lesões de anos de trabalho, me sinto completa por estar nesse mundo.

FONTE

(http://www.sportyard.com.br/materia/saude-fitness-club/o-mundo-encantado-do-ballet-fitness.html - Acessado em 03/11/2014)

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